Manuscritos de Notícias: Anne Rice confirma que Lestat e Louis são um casal homossexual com uma filha

A equipe do site io9 teve a oportunidade de fazer uma entrevista com a rainha dos condenados em véspera de Halloween, Anne Rice, onde a autora falou um pouco sobre a adaptação de Entrevista com o Vampiro: A história de Claudia em HQ, comentou sobre Lestat e Louis serem um casal do mesmo sexo, deu conselhos a aspirante à autores, e enfim, revelou seu pensamento a respeito da invasão dos vampiros na literatura e no cinema.

Aos 71 anos, Rice já desistiu do cristianismo, vendeu mais de 100 milhões de cópias de seus romances, que incluem as Crônicas Vampirescas e a série As Bruxas Mayfair. Entrevista com o Vampiro: A História de Claudia é uma adaptação em HQ por Ashley Marie Witter, do clássico livro de Rice contada a partir da perspectiva de Claudia, a menina que se torna vampira (quem viu o filme vai se recordar da adorável e diabólica Kirsten Dunst no papel). A criadora de Lestat preferiu não se envolver muito no processo de criação da HQ, mas se mostrou extremamente entusiasmada com o resultado.

A arte de Witter é delicada, com um toque de mangá puxado para o barroco. Uma escolha um tanto quanto simbólica também foi feita ao imprimir as páginas da HQ em sépia, e a única cor existente ser o sangue escarlate – que há em demasia.

Confira parte da entrevista:

io9: Por que a história de Claudia? Em Entrevista com o Vampiro você sentiu necessidade de abordar pela perspectiva dela?

A. Rice: Eles [Yen Press] sugeriram de fazer a adaptação, e queriam fazê-lo a partir do ponto de vista da Claudia. Pensei que seria ótimo. É uma adaptação, assim como um roteiro é uma adaptação, ou uma peça (…) Eles fizeram um trabalho magnífico. Simplesmente magnífico.

io9: Como é o seu processo colaborativo? Você escreve pequenas anotações para Ashley Marie Witter, ou você estava trabalhando com ela – ?

A. Rice: Não, não exatamente. Sabe, não sou uma boa colaboradora, e quando deixo que façam adaptações de obras minhas, geralmente prefiro ficar de fora. Exceto com o filme Entrevista com o Vampiro, onde eu escrevi o roteiro. Contudo assim que eles começaram a filmar e mudar cenas, eu já estava fora do processo. Mas confiei em Yen para fazer esta adaptação [da HQ].

io9: O que você pensa sobre os quadrinhos (graphic novel) como um meio?

A. Rice: Eu amo quadrinhos! Gostaria que todos os meus trabalhos fossem assim. Eu amo o fato de que eles tem mais potencial que aparentam. Houveram adaptações anteriores de Entrevista com o Vampiro e O Vampiro Lestat – que eram de empresas que já saíram do mercado. Me lembro de certo momento em que um dos artistas se gabava pelo fato de não ter lido o meu livro. Era algo bem selvagem.

io9 : Como você se sente sobre a explosão na popularidade dos vampiros, mesmo que apenas na última década?

A. Rice: Estou intrigada. Você sabe, ligeiramente confusa. Quando comecei com meu trabalho não era desse jeito, é claro. Haviam muitas rejeições, enquanto nos dias de hoje aparentemente há um mercado muito grande para estes personagens.

io9: Eu acho que essa popularidade não teria sido possível sem você mostrando o caminho. Mas agora parece que há um filme de vampiro diferente a cada semana. Eu estava curioso para saber se você se sentiu como uma verdadeira mãe orgulhosa, ou se você está pronta para algo diferente no meio sobrenatural – ?

A. Rice: Se tenho uma influência, fico feliz. Acho que o vampiro é um conceito tão maravilhoso, um conceito tão rico. Eu não estou surpresa se outras pessoas que têm mirado nesse conceito surgem com personagens diferentes, cosmologias, mitologias diferentes. (…) Eu acho que nós vamos ter vampiros com a gente agora, por um longo período de tempo, tipo como o western e o romance policial. Será uma espécie de história sem fim.

io9: Falando de ser uma mãe orgulhosa, seu filho Christopher é um escritor. Você o incentivou nesta busca de carreira, ou foi contra a escolha?

A. Rice: Oh não, não, eu nunca iria ser contra! Mas na verdade ele me surpreendeu quando escreveu seu primeiro romance. Eu não sabia que ele estava escrevendo, e então ele saiu do quarto com este romance em suas mãos, e nós ficamos impressionados. Ele sempre esteve em ação com escrita de roteiro, coisas desse tipo. No ensino médio ele era muito mais ator, e então eu pensei que ele estava indo nessa direção. Mas, de repente, ele saiu de seu quarto com um romance. E eu estava feliz que ele tinha escolhido a minha profissão. Fiquei emocionada.

io9: Será que você tem palavras de sabedoria que deu a ele e que poderia estender aos nossos leitores? Qual é o seu conselho para os jovens escritores?

A. Rice: Bem, você sabe, eu meio que dou o mesmo conselho sempre. Você tem que ir onde a dor está, ir para onde o prazer está, e você não pode ter medo. Você tem que escrever o livro que você não vai encontrar na livraria, o livro que você realmente quer ler. Um livro em que você queira viver, estar dentro.

Creio que não precisei dizer isso ao Christopher, acredito que ele fez isso. Mas ao meu ver, ajuda na concentração. Quando você diz para si mesmo: estou escrevendo o livro que eu quero escrever, o livro que eu não consigo encontrar, o livro que ainda não foi feito da maneira que eu gostaria de fazê-lo. E, claro, precisamos lembrar que o mundo não quer um alguém que soa como um alguém, o mundo quer uma voz original. O mundo está sempre chorando por vozes originais.

Você poderia desencorajar qualquer escritor que nunca publicou, dizendo: “Quem precisa de mais um romance? O que faz você pensar que você pode escrever sobre isso?”. Você apenas tem que ignorar totalmente. O mundo sempre está com fome para observar algo de uma nova maneira. Ninguém poderia ter previsto que Entrevista com o Vampiro teria sido um sucesso. Ninguém poderia ter previsto que Harry Potter teria sido um sucesso. Se você passou essas ideias para um editor, ele provavelmente lhe diria para desistir. Você tem que ignorar as pessoas.

io9: Isso deve ser a chave.

A. Rice: Você tem que ignorar os críticos. Os críticos são um centavo de dezenas. Escritores são únicos.

io9: Lestat é uma das suas criações mais conhecidas. Como se sente sobre ele no mundo de hoje? Será que ele mudou? Estaria morando isoladamente? Será que ele já viu de tudo?

A. Rice: Eu acho que Lestat ficaria deslumbrado com a tecnologia. Ele sempre está fascinado com essas coisas. Ele tem um pé no mundo do século 18, claro, Lestat se recorda de como era viver naquela época, e creio eu que ele sempre se encontra deslumbrado, encantado com o que acontece a sua volta. Ao entrar numa farmácia toda a noite, observa as cores dos frascos de shampoo e nota a beleza de cada um, sabe, isso é muito típico do Lestat. Acredito que ele seria mais deslumbrado ainda atualmente porque o mundo fica mais interessante e emocionante o tempo todo. Sei que ele se sentiria assim.

io9: Ele provavelmente entraria na fila para comprar o Iphone mais recente.

A. Rice: Eu não sei se ele estaria na fila, mas arranjaria uma forma de entrar na loja para pegar um.

io9: Há o conceito de Louis e Lestat como pais de Claudia que vemos no romance, filme e, agora, na graphic novel. Quando você conhece a narrativa é sutil, contudo na HQ isso está bem claro. Você está de acordo com isso, como uma ideia para o novo século?

A. Rice: Claro! [Risos] Claro! Eu nunca pensei nisso, eles foram os primeiros vampiros pais do mesmo sexo.

io9: Eu me perguntei se isso havia lhe ocorrido antes.

A. Rice: Não.

io9: Essa é a forma como é mostrada na HQ… É muito “ela é nossa filha agora”. Então podemos dizer que eles são um casal do mesmo sexo com crianças?

A. Rice: Com toda a certeza! Claudia é filha deles.

Que Lestat e Louis eram um casal não é novidade para ninguém, contudo a autora nunca fez grandes pronunciamentos a respeito, o que julgo muito digno por expor a relação de ambos com naturalidade. Novamente Rice mostra que não tem medo de críticas ao assumir que Claudia é sim filha deles: um casal do mesmo sexo. E pelo que deu a entender na entrevista, esse fator está acentuado na HQ Entrevista com o Vampiro: A história de Claudia, sem data de lançamento no Brasil.

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